O núcleo de mobiliário conservado na coleção do Museu do Abade de Baçal é relativamente reduzido, apesar de algumas das peças serem de grande importância e aparato.
De entre o mobiliário civil, o destaque vai para duas peças de mobiliário provenientes do legado da família Sá Vargas, a saber: um contador indo-português, do século XVII, de provável fabrico goês; e um contador de mesa, de provável fabrico português. No que respeita à primeira peça, trata-se de um trabalho de estrutura tradicionalmente europeia, de corpo retangular e dividido em várias gavetas que, no caso particular e tendo em conta a sua dimensão, assenta sobre uma mesa que replica os mesmos motivos decorativos. A estrutura é executada em madeira de teca, com motivos incrustados em ébano, sissó e marfim, e ferragens em latão dourado, estas adicionadas em restauro da época do legado. Destaque, neste caso, para a minúcia do trabalho de marchetaria e para os pés sobre os quais assenta toda a estrutura, em forma de nagini, divindades da mitologia hindu que, neste caso, se apresentam com corpo de mulher e cauda de serpente. Quanto ao segundo contador, trata-se de uma peça também do século XVII, produzida com madeiras exóticas e embutidos em materiais orientais, de que se destaca o marfim. A decoração alterna as figuras geométricas com os motivos vegetalistas.
Salientemos, ainda, numa franja utilitária onde se intercetam ou sobrepõem as funcionalidades civis e religiosas, uma magnífica cómoda–papeleira / escrivaninha, barroca, com pintura original denotando uma encomenda provavelmente ligada à Igreja, eventualmente da própria diocese, constituída por dois corpos, sendo o inferior dominado por três gavetões sobrepostos, acomodatícios, e o registo superior dos papéis e dos escritos – a caixa da papeleira/escrivaninha, pintada interiormente a vermelhão com ornamentação de concheados e acantos enrolados a dourado, ocultada por tampa oblíqua – em estrutura ondulada, organizada em três níveis de gavetas, algumas delas com segredo. Pintada a vermelhão em todo o interior, o exterior tem ornamentação geométrica com fitas, acantos e concheados enrolados em coloração gradiente.
Ao lado, um cadeirão de aparato pertencente ao Paço Episcopal de onde o Bispo recebia oficialmente na cenografia do salão nobre do paço, é uma peça imponente que se afirma pela volumetria conferida pelo alto espaldar reforçado pelo cachaço subido, braços e pernas ondulados, coxim fixo e alto espaldar forrado a veludo de seda escarlate debruada com passamanaria original fixada por pregaria. Também a decoração primitiva, sobressaindo a riqueza do veludo escarlate e do debruado, além da pintura dourada com motivos vegetalistas e florais na estrutura e no entalhado frontal, está adequada ao reforço do efeito psicológico pretendido pela receção prelatícia.
No que concerne ao mobiliário sacro a peça mais significativa é a Arca dos Santos Óleos, datada do século XVIII, ostentando as armas de Dom Frei Aleixo de Miranda Henriques, 23º bispo de Miranda (1758–1770). Produzida em pau-santo, esta majestosa obra do barroco português lisboeta tinha como função a guarda dos três Santos Óleos a utilizar durante o ano em toda a diocese e consagrados na cerimónia litúrgica da quinta-feira santa, sendo nessa ocasião solenemente benzidos e conservados em três âmbulas de prata, pertencentes à Diocese de Bragança-Miranda e também apresentadas na exposição permanente do Museu. Para além desta arca, destaque ainda para a cama em pau-santo, orientalizante, que ostenta as armas de Dom João Franco Oliveira, 19º bispo de Miranda (1701-1715), de fabrico português e ricamente decorada com colunas torneadas com bolachas, que se conjugam com elementos como folhas de acanto, leões ou pássaros.